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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

CLONES HUMANOS

ISTO É SERIO!
Enquanto você lê esta reportagem, tem  alguém tentando clonar um ser humano em algum lugar do mundo. Na surdina. Provavelmente, o pesquisador responsável pela tarefa acaba de soltar um suspiro inquieto ao constatar que, mais uma vez, a experiência falhou. A técnica usada na tentativa de produzir clones de gente é bem parecida com aquela que trouxe ao mundo a ovelha Dolly, em 1997, e outros tantos mamíferos desde então . São centenas de óvulos para gerar alguns poucos embriões. Em seres humanos, até hoje, nenhum deles vingou, devido a causas ainda desconhecidas. Diante do fracasso, expresso em abortos espontâneos e fetos malformados, restam alguns milhões de dólares investidos e grupos de doadoras de óvulos, de candidatos à clonagem e de mães de aluguel – todos frustrados. A meta é trazer ao mundo um bebê saudável, o que provavelmente daria ao pesquisador o prêmio Nobel pelo nascimento do primeiro clone humano.
Embora pareça, essa cena não faz parte de Admirável Mundo Novo (1932), livro de Aldous Huxley, que retrata um mundo em que a reprodução é feita em laboratório, sem sexo, e as pessoas são clonadas de acordo com as exigências da sociedade. Os esforços de duplicar seres humanos são reais. Um dos cientistas debruçados sobre a tarefa é o americano Panayiotis Zavos, especialista em medicina reprodutiva e professor emérito da Universidade do Kentucky. Em março deste ano, ele anunciou a formação de um consórcio de pesquisadores com o objetivo de clonar gente. Além de Zavos, há a bioquímica francesa Brigitte Boisselier, diretora científica da Clonaid, empresa do movimento religioso dos Raelians com sede nos Estados Unidos, que pretende produzir o primeiro ser humano clonado em breve. (Os Raelians acreditam que a vida na Terra foi criada por extraterrestres e que, um dia, eles voltarão. A clonagem seria a possibilidade de alcançar a vida eterna.)
A receita para duplicar um indivíduo não é um segredo de Estado: segue, basicamente, os mesmos passos do processo usado para clonar ovelhas, vacas e ratos.
“A clonagem humana provoca uma apreensão muito grande, porque o debate sempre se encaminha para a vulgarização do tema – a duplicação de um milionário excêntrico, de um grande esportista ou de uma beldade qualquer”, diz o médico Volnei Garrafa, especialista em bioética (campo da filosofia que reflete sobre questões biológicas) e professor da Universidade de Brasília. De fato, não existe a possibilidade de usar a clonagem para formar um exército de pessoas geneticamente idênticas, prontas para empunhar armas na primeira guerra que aparecer – fantasia sempre recorrente. As questões que apimentam o debate entre opositores e defensores da clonagem humana são outras. Clonar gente traz algum benefício para a humanidade? É ético? Deixa de ser?
Perto das 277 tentativas para chegar até Dolly, Starbuck II foi um sucesso. “Trata-se de um avanço, sim, mas ainda há falhas enormes”, diz Smith. Até agora foram clonadas em laboratórios do mundo inteiro cinco espécies de mamíferos – ovelhas, ratos, cabras, vacas e porcos. Os próximos na mira dos cientistas são os felinos. A maioria dos clones morreu nos vários estágios do desenvolvimento embrionário, foi abortada naturalmente durante a gestação ou nasceu com deficiências respiratórias, imunológicas e metabólicas, sobrevivendo apenas alguns dias ou semanas. Mas os animais que vingam são tão saudáveis quanto aqueles que nascem por métodos naturais – pelo menos na aparência. Só que não existe comprovação científica de que a clonagem não traga problemas futuros.
“Podemos nos dar ao luxo de aceitar algumas anomalias em animais clonados”, afirma Smith. “Mas não devemos tomar seres humanos como modelos experimentais.” Na opinião dele e de outros tantos especialistas, enquanto as pesquisas com mamíferos não forem animadoras, não se deve testar em gente. “Conhecemos a técnica para clonar um indivíduo, mas ainda não conseguimos torná-la eficiente”, afirma o médico paulista Roger Abdelmassih, um dos maiores especialistas brasileiros em reprodução assistida.
Tanto Zavos quanto Brigitte, cientistas que anunciaram a clonagem de gente para breve, sabem de tudo isso. Então, por que correr tantos riscos? Em outras palavras: qual a utilidade da clonagem humana, além do mero diletantismo científico? “As técnicas de clonagem apresentam riscos como qualquer outro procedimento e estamos buscando minimizá-los”, diz Zavos, que há 25 anos realiza experiências na área de infertilidade humana. Ele pretende fazer clones para ajudar casais que não conseguem ter filhos por nenhum outro método, natural ou artificial. “Temos boa parte da tecnologia necessária, mas ainda precisamos desenvolver ou refinar outras etapas.” Zavos já colocou a mão na massa e disparou sua experiência de clonar gente. Brigitte e outros três cientistas de sua equipe também entraram em ação. “O primeiro ser humano que vamos clonar é um bebê de 10 meses de idade, morto em um acidente”, diz. “O pai dele nos ajudou a comprar os equipamentos para o nosso laboratório. E nós vamos ajudá-lo a ter o filho de volta.”

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